David Schrock24 de Março de 2014 - Igreja e Ministério
Enquanto os evangélicos tradicionalmente desacreditaram o evangelho da prosperidade em sua forma “violenta”, há uma forma mais atenuada desse ensino que é comum até demais entre nós.[1] Frequentemente não detectado por cristãos bíblicos, ele minimiza o evangelho e leva seus adeptos a focar em coisas como planejamento financeiro, dieta e exercício, e estratégias de aperfeiçoamento pessoal, que oferecem miraculosas e imediatas saúde e riqueza. Essa variedade mais branda e sutil desafia os crentes a irromperem para uma vida de bênçãos por meio da técnica prescrita pelo pastor mais recente.
Obviamente, questões de mordomia pessoal como dinheiro, saúde e habilidades de liderança deveriam ser entrelaçadas em uma completa teologia bíblica de discipulado cristão. O problema vem quando os cristãos, especialmente os pastores, depositam grande ênfase a essas questões secundárias. O que escolhemos pregar ou ouvir diz muito sobre o que valorizamos; e o que eu vejo entre alguns evangélicos é uma disposição de priorizar essas questões menores da lei, acima das mais importantes misericórdias do evangelho.
Essa não é uma preocupação nova. Outros já descreveram as facetas desse evangelho da prosperidade com nomes como deísmo moralista terapêutico, cristianismo sem Cristo e mercantilização do cristianismo.[2] Na verdade, todos os três concordam em descrever um evangelho da prosperidade que é facilmente ignorado, porque parece razoável para os cristãos que amam tanto a Deus quanto à realização dos sonhos de prosperidade.
Um evangelho da prosperidade mais sutil e brando
Para os que têm olhos para ver, os sinais da pregação atenuada da prosperidade estão em todo lugar no evangelicalismo. A rádio cristã oferece uma experiência “positiva”, “encorajadora”, com inúmeras canções incentivando os ouvintes a serem vencedores. As editoras cristãs vendem livros que ajudam os cristãos a terem uma melhor aparência, se sentirem mais confiantes e alcançar seu máximo potencial. Semelhantemente, Jeremias 29.11 e Filipenses 4.13 continuam a ser repetidos como mantras por cristãos que querem ter um impacto no mundo.
Mas, é claro, esses exemplos são apenas sintomas, e a solução não é demonizar os comerciantes cristãos. Em vez disso, devemos todos aprender a pensar mais profundamente sobre o conteúdo da nossa fé e refutar os ensinos errôneos do atenuado evangelho da prosperidade (Tito 1.9).
Cinco marcas registradas da pregação atenuada da prosperidade
Para auxiliar nesse discernimento, deixe-me traçar cinco marcas registradas da pregação atenuada da prosperidade, especialmente como elas aparecem em sermões e livros.
- A pregação atenuada da prosperidade eleva as “bênçãos” acima do bendito Deus.
- A pregação atenuada da prosperidade separa os versículos da estrutura redentiva da Bíblia.
- A pregação atenuada da prosperidade deprecia a maldição que Cristo suportou e a bênção do Espírito Santo.
- A pregação atenuada da prosperidade depende de técnicas terapêuticas prescritas pelo pastor.
- A pregação atenuada da prosperidade aborda amplamente problemas da classe média.
Em primeiro lugar, a pregação atenuada da prosperidade eleva as “bênçãos” acima do bendito Deus. Quando as bênçãos são divorciadas do Deus trino, tudo se compromete. A verdadeira bênção reside somente em Deus, o “bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores” (1Tm 6.15). Por consequência, buscar a bênção de Deus requer buscar a ele mesmo (Is 55.6-7; Mt 6.33). Cristo é o verdadeiro tesouro (Mt 13.44-46), e qualquer busca de bênção que torna Deus um meio para outro fim é errônea e idólatra.
Em segundo lugar, a pregação atenuada da prosperidade separa os versículos da estrutura redentiva da Bíblia. Quando os pregadores apresentam versículos isolados como princípios consagrados pelo tempo para reivindicar as bênçãos de Deus, o resultado é um evangelho falsificado. Ao invés de ligar todas as bênçãos a Cristo, eles aplicam diretamente versículos individuais às pessoas de hoje.
Tal promessa motiva o forte e extingue o fraco. A menos que uma passagem seja corretamente relacionada à estrutura redentiva da Bíblia, versículos, como Salmo 1.3, se tornam esteiras nas quais os cristãos sinceros e zelosos se exaurem. A genuína pregação expositiva cristocêntrica previne esse tipo de manipulação textual e protege contra o evangelho da prosperidade atenuado.
Mais especificamente, a pregação atenuada da prosperidade se deleita nas promessas tangíveis do Antigo Testamento.[3] O erro é frequentemente o de prometer bênçãos da antiga aliança para os santos da nova aliança. Sempre que lemos o Antigo Testamento, como intérpretes fiéis, devemos ver como as promessas primeiramente se relacionaram a Israel e seu estado teocrático; segundo, a Jesus, que cumpriu perfeitamente a lei (Mt 5.17); e em terceiro lugar, a nós. Por vivermos sob a nova aliança, sempre haverá continuidade e descontinuidade entre a promessa do Antigo Testamento e seu cumprimento contemporâneo. Os pregadores devem aprender como interpretar tais textos antigos nos níveis textual, histórico e canônico.[4] Semelhantemente, igrejas saudáveis devem aprender a ver como cada bênção é encontrada relacionando-a a Jesus Cristo, o mediador da nova aliança.
Terceiro, a pregação atenuada da prosperidade deprecia a maldição que Cristo suportou e a bênção do Espírito Santo. Na Bíblia, bênção não é uma ideia amorfa. Deuteronômio 27-28 especifica o conteúdo das bênçãos e maldições da aliança mosaica. Citando tais versículos, os atenuados pregadores da prosperidade anunciam bênçãos divinas através de uma maior obediência, mas ignoram as letras miúdas. Apenas um homem obedeceu a Deus tão perfeitamente a ponto de merecer a bênção de Deus (Hb 10.5-10). E pela obediência pactual de Jesus, ele foi sentenciado à morte em uma cruz romana, amaldiçoado pelos pecados do seu povo (Gl 3.10-13).
Talvez o maior problema com a pregação atenuada da prosperidade é a maneira como ela minimiza a cruz de Cristo, em vez de adorar o Bendito que suportou a ira de Deus em nosso lugar (Gl 3.13). Os atenuados pregadores da prosperidade frequentemente falam sobre o que você pode fazer para experimentar o favor de Deus, mas passam longe da cruz, ignorando o fato de que cada dom espiritual foi assegurado para o crente por Jesus, que nos dá o seu Espírito como a principal bênção (Gl 3.14; Ef 1.3). Embora eles não neguem a via de salvação descrita em Romanos, eles estão dirigindo em outra estrada.
Quarto, a pregação atenuada da prosperidade depende de técnicas terapêuticas prescritas pelo pastor. Ao minimizar o evangelho, os atenuados pregadores da prosperidade preenchem o vácuo com um prato cheio de técnicas terapêuticas. Com a linguagem de Sião, eles enfatizam as boas obras do crente. Embora não neguem explicitamente a salvação pela graça através da fé, pastores que repetidamente insistem em dicas de vida, técnicas e estratégias para santo sucesso minam a fé que foi uma vez por todas entregue aos santos.
Enquanto que as primeiras quatro marcas registradas possam, de muitas maneiras, serem aplicadas tanto à violenta quanto à atenuada pregação da prosperidade, uma diferença surpreendente diferença permanece. Enquanto que a pregação violenta da prosperidade convida os seguidores a “declararem” e “reivindicarem”, os a pregação atenuada da prosperidade inspira o movimento ascendente para alcançar os sonhos. Na primeira, boa saúde e fortes finanças provam a salvação tangível de Deus; na segunda, os pregadores proclamam uma religião de soluções terapêuticas. Para citar apenas um dos mestres dessa prosperidade atenuada: “Se eu creio no retorno sobrenatural do ato de dar? Sim, senhor! Se eu creio que Deus abençoa dízimos e ofertas? Sim, eu creio. Mas por que deveríamos ensinar vocês a pedir por um carro sem ensinar a respeito do pagamento do carro e das taxas de juros de financiamento?”[5]
Em poucas palavras, a mensagem de T.D. Jake promete o mesmo ouro através de uma diferente linha de crédito: superabundante fé misturada com obras metódicas. Resumindo, essa pregação atenuada da prosperidade apela para pessoas de classe média que estão muito ocupadas vivendo para examinar uma mensagem que reafirma suas próprias aspirações naturais de sucesso. Tragicamente, “crentes” que engolem esse evangelho falso podem permanecer ignorantes de sua maior necessidade — expiação pelos pecados diante de um Deus santo — a menos que confrontados com o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo.
Uma melhor teologia da bênção
No fim das contas, a tragédia do evangelho da prosperidade atenuado é a maneira com que ele foca tanto em melhorias terrenas. Ao oferecer aos cristãos a melhor vida possível agora, as realidades eternas do céu e do inferno são perdidas. Isso traz a possibilidade muito real que muitos que ouvem o evangelho da prosperidade atenuado estão e continuarão estando perdidos.
Como resposta, os cristãos devem aprender a reconhecer o erro da pregação atenuada da prosperidade, e nós — especialmente pastores — devemos trabalhar em constante oração para libertar outros dela. Primeiro devemos confessar as maneiras em que os desejos por sucesso terreno laçaram os nossos próprios corações. Segundo, devemos apresentar o evangelho bíblico, que excede em muito a oferta de sucesso santo. Devemos exaltar as riquezas do verdadeiro evangelho e confiar que quando as ovelhas de Deus ouvem o seu chamado para arrependerem-se de seus pecados e se voltarem para Cristo, elas também abandonarão a sua atenuada prosperidade e receberão como dom gratuito o único tesouro que conta — Jesus Cristo, o Único Rei Bendito.
[1] Sobre a diferença entre os evangelhos da prosperidade violento e atenuado, veja o estudo revelador de Kate Bowler, Blessed: A History of the American Prosperity Gospel (Nova York: Oxford University Press, 2013), 78.
[2] Em ordem, Christian Smith com melinda Lundquist Denton, Soul Searching: The Religious and Spiritual Lives of American Teenagers (Nova York: Oxford University Press, 2006); Michael Horton, Christless Christianity: The Alternative Gospel of the American Church (Grand Rapids: Baker, 2008), esp. 65-100; Stephen J. Nichols, Jesus Made in America: A Cultural History from the Puritans to The Passion of the Christ (Downers Grove, IL: IVP Academic, 2008), esp. 173-97.
[3] Veja uma lista de tais versículos no artigo de Michael Schäfer: “The Prosperity Gospel and Biblical Theology.”
[4] Para um útil tratamento dessa abordagem, veja Edmund Clowney, Preaching and Biblical Theology(Phillipsburg, NJ: P & R, 1979).
[5] Citado em Bowler, Blessed, 119.
Tradução: Alan Cristie
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