quinta-feira, 27 de março de 2014

Pregue ao descrente, ao crente e ao membro de igreja


Para quem os pregadores pregam? Eu recentemente tomei da estante alguns livros sobre pregação e descobri que essa questão raramente é abordada. Os pregadores parecem muito mais preocupados em refinar o seu estilo.
Ainda assim, alguns pastores estão dando atenção aos ouvintes, e eles tendem a focar em dois segmentos da população: os desigrejados e os pós-modernos. James Emery White, presidente do Gordon Conwell e pastor da Igreja Comunidade Mecklenburg em Charlotte, Carolina do Norte, afirmou certa vez que ele explicitamente tinha por alvo os descrentes. Ele pôs dessa forma em uma entrevista dada em 1999:
Mecklenburg é uma igreja direcionada para o visitante, que foi fundada [para] ... focar em pessoas desigrejadas. Por “direcionada ao visitante” eu obviamente quero dizer que os pontos básicos da igreja são planejados para pessoas desigrejadas. De alguma maneira ou forma, nós podemos dar-lhes um empurrãozinho quando eles estão em modo busca, ou nós tentamos ajudá-los a tornarem-se pessoas ativas nessa busca. Pois nem todos os que são desigrejados estão em busca de uma igreja. [1]
Uma vez que o sermão é um desses “pontos básicos”, White seguiu os passos de homens como Bill Hybels, Bob Russel e Rick Warren, os quais se destacam entre os demais pregadores por sua habilidade de falar aos desigrejados. [2]
Um outro grupo de escritores enfatiza a importância de pregar para a mente pós-moderna. O outrora pastor Brian McLaren disse que sua pregação começou a ser afetada, em 2001, ao refletir acerca da aversão pós-moderna à performance e à análise detalhada, juntamente com a sua inclinação para a autenticidade e a narrativa. Agora, narrativa e autenticidade são centrais em sua pregação. [3]
Esses dois exemplos deixam alguns de nós nervosos. Quando um pregador vai muito longe em adaptar-se à sua audiência, a própria mensagem fica comprometida, o que ocorreu tanto nas igrejas “sensíveis ao visitante” como nas igrejas emergentes. Ainda assim, pregadores pregam para pessoas reais, pessoas que são desigrejadas, pós-modernas, e tudo mais que pudermos pensar. O desafio é oferecer alguns pensamentos a todos os tipos de pessoas sentadas na congregação. Este artigo humildemente se esforça para fazê-lo.
Eu sugiro que os pastores preguem com três tipos de pessoas em mente.
Pregue aos não-convertidos
É sempre bom considerar os não-cristãos em um sermão na manhã de domingo, mesmo se sua igreja for pequena e não-cristãos não estiverem presentes. Minha igreja não é grande, porém, mesmo assim, eu presumo que algumas das pessoas sentadas nos bancos não conhecem a Cristo. Algumas delas são cristãos nominais, que podem ter professado Cristo e estar em igrejas por anos, mas ainda necessitam do novo nascimento para trazer-lhes vida verdadeira. Outros são não-cristãos professos que nossos membros convidaram. Ainda há outros que atravessaram a rua em resposta a um cartão de igreja, um boletim, o site, ou o próprio prédio. Em outras palavras, não-cristãos virão.
E daí?
Esclareça o Evangelho
É responsabilidade do pregador esclarecer o evangelho à medida que ele explica a Palavra de Deus. Paulo escreveu:
Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. (Romanos 10.9-10)
Nós somos, no fim das contas, ministros do evangelho.  O evangelho não precisa soar da mesma maneira em cada sermão. Mas, seja lá como for explicado, o pastor deve perguntar em face da passagem: “Como ela aponta para o evangelho?”. Mesmo os descrentes podem reconhecer a diferença entre um sermão centrado no evangelho e um sermão no qual o evangelho é apenas encaixado no final.
Minha igreja fica próxima a um seminário, e nós temos muitos homens que estão sendo treinados para ser pastores e que frequentemente perguntam: “O evangelho precisa mesmo estar em cada sermão?”. A resposta é “sim” por pelo menos duas razões. Primeiro, porque o evangelho compreende cada texto da Escritura de Gênesis a Apocalipse. Segundo, porque o não-convertido precisa saber o que significa “confessar Jesus como Senhor e crer no coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos”. (Cristãos necessitam ouvir isso de novo e de novo, também, a fim de crescer na fé!) Mesmo que o descrente tenha ouvido o evangelho dúzias de vezes, Deus o trouxe a mim como pregador – hoje. Então eu quero que o evangelho desafie mais uma vez o seu entendimento do mundo, do pecado e da salvação.
Esclarecer o evangelho é uma das coisas mais importantes que eu posso fazer como pastor.
Pregue expositivamente
Pastores que são sensíveis à presença de não-cristãos os servirão melhor ao pregarem expositivamente. Não-cristãos desejam saber por que nós cremos no que cremos. Uma vez que a nossa doutrina e vida são fundamentadas na Palavra de Deus, nós servimos melhor os desigrejados ao direcioná-los honesta, fiel e claramente para a Escritura, assim como nós fazemos com cristãos.
Um movimento de escritores e líderes de igreja hoje afirma que a mente pós-moderna – igrejada e desigrejada – responde melhor à “pregação narrativa”. Eles argumentam que as pessoas querem ouvir histórias. Tudo bem, eu gosto de histórias. Pregar expositivamente deveria prover aos desigrejados o enredo da Bíblia, o qual, por sua vez, provê um enredo da obra de Deus na humanidade, o qual, por sua vez, provê um enredo para as suas próprias vidas. Os pastores não apenas deveriam lidar com toda a Escritura à medida que pregam expositivamente; eles deveriam fazê-lo com o objetivo de dar aos seus ouvintes “um retrato mais amplo de Deus”. Isso é pregação amigável com o visitante. [4]
O mesmo movimento afirma que a mente pós-moderna valoriza autenticidade. Tudo bem, eu também gosto de autenticidade. É uma desculpa perfeita para pregar expositivamente. Vamos focar menos na forma e mais na mensagem: O que Jesus disse? O que Isaías profetizou? O que Paulo escreveu? E o que as respostas a essas perguntas têm a ver conosco hoje? Isto é o que desejam os não-convertidos que aparecem em nossas igrejas: a verdade bíblica sem penduricalhos.
Se elas irão finalmente concordar com aquela verdade é algo entre elas e Deus; mas o conteúdo do que pregamos é inegociável.
Alcance os não-convertidos
Há diversas coisas que nós podemos fazer para tornar os nossos sermões evangelísticos. Identificar os números grandes e pequenos como capítulos e versículos é útil para o desigrejado. Também é útil dizer-lhe para usar o sumário da Bíblia. Que palavra de conforto para um visitante não-convertido, quando todos ao seu redor parecem achar Obadias com tanta facilidade!
Introduções provocativas ao sermão também ajudam a construir uma ponte para o descrente ao explicar a relevância do texto que está para ser exposto. Por exemplo, no último Domingo de Páscoa, eu preguei em Lucas 5.33-39, no qual os fariseus ficam perplexos com o fato de que os discípulos de Jesus não estavam jejuando. Jesus responde observando que os convidados de um casamento não jejuam enquanto o noivo está presente, e então conta a parábola do vinho novo em odres velhos. Eu intitulei o sermão assim: “São os cristãos mais felizes?”. Aquela introdução foi uma oportunidade para explicar que a alegria verdadeira, duradoura e transformadora consiste em estar na presença do noivo ressurreto, Jesus Cristo. Foram os cristãos ajudados pela introdução? Eu espero que sim, mas eu vi aqueles dois ou três minutos como uma oportunidade especial para alcançar o não-convertido que poderia necessitar de alguma ajuda especial acerca do motivo pelo qual nós nos reunimos em torno da Palavra de Deus.
Todas essas “pequenas” práticas têm também um efeito cumulativo na congregação. Quando os crentes reconhecem que o púlpito é amigável com o não convertido, eles se tornam mais dispostos a trazer os seus amigos não-cristãos. É incorreto pensar que sermos centrado no evangelho signifique que não podemos ser sensíveis ao visitante.
Pregue aos convertidos
Por mais importante que seja pregar para o não-convertido, a tarefa principal do pregador no Dia do Senhor é dirigir-se aos cristãos. Ele deve edificar a igreja local; e a igreja deve ouvir, pronta e desejosamente, a fim de submeter-se a Cristo como o cabeça da igreja. Essa é a nossa principal “audiência”. Assim, na minha própria preparação para o sermão, eu tenho em mente sobretudo os convertidos.
Como então o pregador deve abordar os cristãos?
Repreenda e corrija os cristãos
Nós sabemos a partir de João que o pecado persiste na vida do crente: “Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1Jo 1.10). Há uma espécie de alfinetada nesse versículo, como se João soubesse que os crentes são tentados a minimizar o seu pecado, elevar a sua santificação e negar ao Senhor. Além disso, Paulo escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16). Assim, quando um pastor está pregando para cristãos, a verdade da Palavra de Deus necessariamente há de repreender e corrigir.
Nenhum pastor quer ser conhecido por abater cristãos. Ainda assim, a fidelidade à Escritura requer que um homem esteja apto para repreender no devido tempo. Essa é uma razão pela qual o chamado para a pregação não deveria ser aceito levianamente. Ser fiel a essa tarefa requer que nos perguntemos em face de cada texto que pregamos: “Como esta passagem repreende ou desafia o cristão?”. Ela desafia a falta de oração, a fofoca, ou a idolatria? A resposta pode levar em consideração a igreja local do pastor ou aquilo que é aplicável a todos os cristãos. De todo modo, pregar sem repreensão e correção não pode ser considerado pregar de modo plenamente bíblico.
Sustente e encoraje os cristãos
Ainda bem, pregar ao convertido significa mais do que repreender e corrigir. Significa trabalhar para sustentar e encorajar os crentes com a Palavra de Deus. O crente é completamente dependente da Palavra. Como Jesus disse, “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4; Dt 8.3). Isso significa que, quando o cristão vem para ouvir o sermão, ele está vindo para ser nutrido pelas palavras da vida.
É claro que o crente pode ser alimentado pela Palavra de Deus durante outros períodos da semana, mas a pregação exerce um papel central em seu sustento. Considere Tito 1.1-3, em que Paulo descreve como a vida eterna se manifesta na Palavra de Deus, através da pregação. Cristãos são nutridos e sustentados por sermões. Uma pergunta para fazer em face de cada texto é: “Como isso sustenta, preserva ou encoraja o cristão?”.
Poucas coisas me encorajam mais no meu ministério de pregação do que isto: a igreja se reúne porque os crentes necessitam da vida que é concedida através da palavra pregada, não porque eles necessitam de mim! Essa é simplesmente a tarefa que eles me deram para executar, a refeição espiritual que eles me comissionaram para preparar. Que privilégio ser usado por Deus para sustentar, nutrir, construir e edificar o seu povo com a sua Palavra!
Santifique e fortaleça os cristãos
O Filho orou para que os filhos do Pai fossem santificados e tornados mais semelhantes a Cristo. Jesus sabia que os seus seguidores haveriam de suportar toda sorte de sofrimentos e escárnios por terem recebido a sua palavra (Jo 17.14), mas ele não orou para que eles fossem tirados do mundo. Ao invés disso, ele orou para que eles fossem santificados. Como os cristãos haveriam de se tornar mais santos? Jesus orou: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). A mensagem de Deus haveria de santificar os filhos de Deus. Cristãos são feitos santos ao apreender e aplicar as Boas Novas e toda a Escritura à sua vida (cf. 2Tm 3.17). Uma palavra santa torna um povo santo.
É claro que a santificação é principalmente uma obra de Deus. Ele é aquele que opera na vida do crente (Fp 2.13; Hb 13.20-21) e que assegura que os crentes terão tudo de que necessitam para dar a Ele glória e honra. Isso é exatamente o que acontece à medida que ele conduz os santos para se congregarem e para ouvirem as verdades da sua Palavra. Não é surpreendente que eles sejam estimulados “ao amor e às boas obras” (Hb 10.24).
Pregadores têm oportunidades gloriosas de serem usados na vida de pecadores a fim de fortalecê-los para a tarefa de prosseguirem na vida cristã. No Salmo 1, o homem bem-aventurado que se deleita na lei de Deus é assemelhado a uma árvore plantada junto às correntes de água, uma árvore que é frutífera e robusta. A analogia não é difícil de entender. O cristão é frutífero e robusto quando se alimenta e se deleita na lei do Senhor. Sermões exercem um papel em guiar o cristão para meditar na lei de Deus. Embora o pregador não possa produzir homens bem-aventurados (ainda bem que isso é tarefa de Deus e do Seu Espírito!), a ele é dado o grande privilégio de alimentar o povo de Deus com a Palavra de Deus. O pregador pode ser como aquelas correntes de água, entregando fielmente a Palavra de Deus e fortalecendo aquela árvore semana após semana, mês após mês, ano após ano.
Diferentemente do contador que confere os livros contábeis no final do mês, ou do diretor executivo que observa a empresa reerguer-se, quem sabe se o pregador jamais verá o fruto que nasce, as vidas que são transformadas, os corações que são tocados! O melhor trabalho de um pastor não pode ser medido deste lado do céu. Esse tipo de fruto não pode ser recolhido em cestos. Não obstante, o fruto está lá. A pregação da Palavra de Deus, por sua graça, santifica e fortalece o pecador e o prepara para as suas próprias obras de graça.
Desafie e edifique os cristãos
Discípulos precisam crescer no seu entendimento e interpretação da Escritura. Eles tendem a ser muito descuidados ao ingerirem os sermões, de modo bastante distinto daqueles bereanos de Atos 17, os quais examinavam o que ouviam a fim de verem se era verdade. Uma pregação expositiva sólida irá desafiar o discípulo dando-lhe algo em que pensar e examinar. Criticando a pregação rasa, James W. Alexander certa vez afirmou:
Nesses sermões, nós encontramos muitas verdades bíblicas valiosas, muitas ilustrações originais e comoventes, muitos argumentos sólidos, exortações pungentes e grande unção. Considerados em si mesmos, e vistos como orações de púlpito, eles não parecem dar margem a sequer uma objeção; ainda assim, como exposições da Escritura, eles são literalmente nada. Eles não esclarecem quaisquer dificuldades no argumento dos escritores inspirados; não fornecem perspectivas amplas do campo no qual o seu assunto se desenvolve; eles podem ser repetidos a vida inteira sem contribuírem no menor grau para educar a congregação em hábitos de sólida interpretação. [6]
Sermões que desafiam e edificam os cristãos não precisam ser ásperos ou difíceis de entender (tal pregação seria infiel e sem sentido, de todo modo!). Ainda assim, os sermões que desafiam e edificam os cristãos são sermões pregados por homens que se debruçaram sobre o texto. Um pastor que dedica o seu tempo à preparação do sermão praticamente não precisa perguntar em face do texto: “Como esta passagem desafia ou edifica o cristão?” – a Palavra de Deus está completamente engajada em alcançar o propósito para o qual Deus a designou (Is 54.10-11). O seu esforço dará fruto à medida que a congregação colhe a recompensa da sua diligência.
Na minha igreja, nós nos esforçamos para ser fiéis à Escritura, seja quando pregamos em uns poucos versos, seja quando pregamos um livro inteiro em poucos sermões, como eu recentemente fiz com o livro de Jó. Pela primeira vez em anos, estudantes universitários estão entrando na igreja porque a pregação os desafia a crescerem. Um casal mais velho recentemente me disse que eles gostam de vir porque os sermões os ajudam a terem discussões espirituais durante o almoço. Eu não acho que alguém diria que fazemos um trabalho maravilhoso de comunicação com o mundo, e certamente ninguém diria que minha pregação é empolgante. Há muito espaço para aperfeiçoar. Mas, pela graça de Deus, nós estamos abrindo a Palavra de Deus – e isso é empolgante e transformador!
Cristãos procuram pregações que são fiéis à Escritura, o que significa pregação que inclui repreensão e correção, sustento e encorajamento, santificação e força, desafio e edificação.
Agora que nós abordamos a pregação tanto para não cristãos como para cristãos, pode parecer um lugar natural para terminarmos. Mas os pregadores devem estar sensíveis a mais uma categoria: os membros de igreja.
Pregue aos membros de igreja como um corpo congregacional
Na maioria das igrejas, a maior parte da congregação é composta pelos homens e mulheres que assumiram um compromisso com aquele lugar, com aquele ministério, e com os demais membros. Isso deveria influenciar a sua pregação? Eu penso que sim.
Paulo descreveu a congregação dos santos em Colossos como “retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus” (Cl 2.19). Esses não eram simplesmente discípulos, eram discípulos arraigados na igreja Colossense os quais cresciam o crescimento que procede de Deus. Em Colossenses 3.15-16, Paulo continua: “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração”. Observe que Paulo dirigiu-se a essa igreja local como um corpo e os lembrou de que eles deveriam estar unidos pela Palavra de Cristo. E isso aconteceria à medida que eles se reunissem juntos para cantar a Escritura e ouvir a Escritura sendo pregada.
Paulo não se dirige aos cristãos, aqui, como cristãos individuais, mas como membros de uma igreja em particular. A sua reunião trazia unidade não porque eles ficavam geograficamente mais próximos, mas porque a Palavra de Cristo vinha habitar neles à medida que eles compartilhavam do mesmo ensino e da mesma admoestação. Eles estavam sob a mesma autoridade porque eles reconheciam Cristo como a sua cabeça.
O mesmo é verdade em uma igreja local hoje, e um dos meios pelos quais a unidade é promovida é através da pregação da Palavra de Deus. João Calvino afirmou isso ao descrever o ofício do pregador. O pregador é aquele que traz unidade ao corpo. Comentando Efésios 4 e discorrendo acerca da unidade da igreja em torno de uma só esperança, Senhor, fé e batismo, Calvino escreveu:
Nestas palavras, Paulo mostra que o ministério dos homens a quem Deus usa para ordenar a Igreja é um elo vital para unir os crentes em um só corpo... O modo como ele [Deus] opera é este: ele distribui os seus dons para a Igreja através de seus ministros e assim demonstra que Ele mesmo está presente ali, ao empregar o poder do seu Espírito, impedindo-os de se tornarem inúteis e infrutíferos. Desse modo, os santos são renovados e o corpo de Cristo é edificado. Desse modo, nós crescemos em todas as coisas para aquele que é a Cabeça e nos vinculamos uns aos outros. Desse modo, nós somos todos trazidos à unidade de Cristo e, à medida que a profecia floresce, nós recebemos os seus servos e não desprezamos a sua doutrina. Quem quer que tente afastar-se deste padrão de ordem na Igreja, ou escarneça dele como se fosse de pequena importância, está conspirando para arruinar a Igreja. [7]
Por que enfatizar tanto os membros da igreja como um corpo coletivo, quando tantas igrejas estão crescendo ao enfatizar os não-membros? Porque a Bíblia enfatiza aqueles indivíduos que são parte da igreja local, como nós podemos ver nas epístolas do Novo Testamento. O cristianismo emergiu no contexto de pessoas de diferentes origens que, juntas, compartilhavam o evangelho – isso era a igreja. E isso tinha implicações radicais. Como Paulo escreveria, “se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam” (1Co 12.26). Essa é uma comunidade que “arregaça as mangas” e se envolve na vida do outro.
A pregação bíblica deveria regularmente dirigir-se aos cristãos não apenas como indivíduos, mas como indivíduos que assumiram um compromisso uns com os outros como um corpo local específico. Pergunte em face de cada texto: “Como esta passagem se aplica à nossa vida como uma comunidade de fé?”. Pode parecer estranho dirigir-se apenas aos membros da igreja, mas que visão constrangedora da igreja isso provê, tanto para os desigrejados como para aqueles cristãos que escolhem flertar com a igreja ao invés de comprometerem-se de fato com ela! O pastor mostra a sua apreciação por aqueles cristãos que tornaram-se membros da igreja e, mais importante, o seu amor pela Palavra de Deus que une os membros de sua igreja quando ele se dirige a eles, diretamente e coletivamente, na pregação.
Conclusão
Enquanto eu meditava na questão “Para quem o pregador prega”, fui impactado com as palavras de Peter Adam, vigário da paróquia anglicana de St. Jude, em Carlton, na Austrália, que escreveu: “se nós somos servos de Deus e de Cristo, e servos da sua Palavra, então o chamado do pregador é também para ser um servo do povo de Deus”. [8] Sim, eu acho que o pregador deve estar sensível aos desigrejados. Mas, se nós focarmos apenas nos desigrejados, a mensagem pode se perder, ou ser de tal modo diluída que o povo de Deus termine ficando desnutrido. Essa não é uma bela visão. É importante pregar para o desigrejado, mas é mais importante focar primariamente nos cristãos e lembrar o valor de dirigir-se regularmente àqueles crentes que assumiram um compromisso com a igreja local.
Notas:
1. "Preaching to the Unchurched: An Interview with James Emery White" em Preaching with Power: Dynamic Insights from Twenty Top Communicators, ed. Michael Duduit (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2006), 227.
2. Ibid., 230.
3. "Preaching to Postmoderns: An Interview with Brian McLaren" em Preaching with Power: Dynamic Insights from Twenty Top Communicators, ed. Michael Duduit (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2006), 126-27.
4. A fim de ajudar na exposição desse enredo, pregadores expositivos considerarão estes pequenos livros úteis: The Symphony of Scripture: Making Sense of the Bible’s Many Themes (1990) por Mark Strom; God’s Big Picture: Tracing the Storyline of the Bible (2002) por Vaughan Roberts; e Gospel and Kingdom, agora disponível em The Goldsworthy Trilogy (2000). Essas introduções à teologia bíblica podem ajudar a comunicar a unidade da Escritura ao pregar ao longo da Bíblia.
5. Ver o capítulo de Mark Dever sobre pregação expositive em Nine Marks of a Healthy Church (Crossway, 2004).
6.  J.W. Alexander, Thoughts on Preaching (Carlisle, PA: Banner of Truth, Date), 239.
7. John Calvin, The Institutes of the Christian Religion, ed. Toney Lane and Hilary Osborne (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1986), 245.
8. Peter Adam, Speaking God’s Words: A Practical Theology of Expository Preaching (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1996), 130.
Aaron Menikoff
AutorAaron Menikoff
Aaron Menikoff é presbítero na Igreja Batista da Avenida Terceira em Louisville, Kentucky, escritor para o Kairos Journal, um jornal on-line para...

Enfrentando Ataque e Traição de Membros da Igreja


Uma das situações mais dolorosas com que você se depara no ministério ocorre quando aqueles que são seus maiores apoiadores se voltam contra você. Posso lembrar que tremi ao ler estas palavras de Spurgeon: “Prepare-se para quando o seu mais querido irmão o trair”. O quê? Você está dizendo que isso acontecerá.
Em mais de 16 anos de ministério, ainda posso lembrar a carta mais dolorosa e odiosa que já recebi. Era de um dos mais queridos apoiadores e defensores de meu ministério e de mim mesmo, um irmão que acabara de deixar a igreja por causa de uma decisão difícil que tivemos de tomar e que o afetava pessoalmente.
Como você enfrenta esse tipo de traição? 3 sugestões:
Reaja com longevidade em mente. A reação natural que todos temos é lidar como se o problemaTIVESSE de ser resolvido agora mesmo. O fato é que raramente temos o poder de produzir qualquer tipo de reconciliação entre nós e a parte ofendida, especialmente se eles interrompem a comunhão e abandonam a igreja. Isso não significa que não tentamos, mas o fato é que freqüentemente a reconciliação não acontece com rapidez. Isso nos leva à próxima sugestão.
Não diga nem faça qualquer coisa que você lamentará anos depois. Embora o pastor seja freqüentemente o alvo, ele também tem o poder e as condições na igreja para manipular a situação em seu favor. Por exemplo, pessoas saem furiosas por causa de uma situação, e na próxima assembléia a congregação quer saber por quê. Quando me vi nessa situação e fui tentado a expressar para a congregação, naquele momento, toda a mágoa, ira, frustração e desapontamento, não o fiz pela graça de Deus. Não cometa esse erro. Eu queria, mas não parecia correto. Quando olho para trás e recordo aquela assembléia, atacar verbalmente aquelas pessoas que não estavam presentes teria sido pecaminoso e teria fechado a porta para uma reconciliação futura com elas, anos depois. Por isso, permaneci em silêncio.
Assegure-se de ter outros homens ao seu redor para ajudá-lo a discernir as acusações. Essa é a razão por que você precisa de outros pastores ao seu redor. Um ataque pessoal contra você, seu caráter e seu ministério exige uma opinião mais objetiva para avaliar acuradamente as acusações. Um ataque pessoal dirigido por um membro de igreja amado sempre incitará as emoções que obscurecerão o seu julgamento. Deixe que outros pastores que o conhecem bem e podem falar honestamente sobre a sua vida avaliem as críticas. Há verdade nelas? Outros homens biblicamente qualificados em sua igreja que conhecem a pessoa que o ataca serão os seus melhores meios de discernimento. Então, submeta-se a esses homens.
A razão por que resolvi escrever sobre isto é esta carta significativa que recebi na semana passada. Foi escrita pela mesma pessoa que escreveu a mais dolorosa carta que mencionei antes. A essência da carta é resumida nesta seção:
Por vários anos, tenho lutado contra a idéia de escrever-lhe. Realmente, eu não sabia o que dizer ou como tratar do assunto. Quero pedir-lhe perdão pela carta que lhe escrevi quando deixei a igreja. Senti-me magoado e traído por você, quando na realidade eu estava enganado. Por favor, aceite meu sincero pedido de perdão.
Uma carta bastante amável foi também enviada para minha esposa. Quão bondoso é o Senhor para nós nesses momentos! Embora eu ainda sustente a decisão que tive de fazer, certamente fiz algumas decisões dolorosos em meio ao processo de lidar com aquela situação desagradável. A carta mais recente nos levou, eu e minha esposa, a refletir sobre a humildade genuína dessa pessoa e sobre a graça de Deus o dom da reconciliação com alguém que era e ainda é muito querido para nós.
Infelizmente, como muitos de vocês, também poderia escrever este post sobre outras situações que ainda não foram resolvidas, e lágrimas se formam em meus olhos quando penso nesses relacionamentos desgastados. Isso sempre fará parte do ministério pastoral. No entanto, estou aprendendo que o horário de Deus para essas questões é comumente bem mais devagar do que o nosso. Deus nos amadurece como pastores à medida que esperamos. Portanto, enquanto isso, nos dolorosos momentos de traição, atente para estas sugestões. Apegue-se a Cristo como sua consolação, alegria e aquele que sempre estará com você nesses momentos. Não esqueça de pedir a Deus que um dia restaure qualquer relacionamento que ainda está rompido. Estou aprendendo com a admirável bondade e poder de Deus. Ele é capaz.
Traduzido por: Wellington Ferreira
Do original em inglês: Facing Attack and Betrayal from Church Members
Brian Croft
AutorBrian Croft
Brian Croft é o pastor efetivo da Auburndale Baptist Church em Louisville, Kentucky. Ele também é autor de "Visit the Sick: Ministering...

Uma Versão mais Branda do Evangelho da Prosperidade

David Schrock24 de Março de 2014 - Igreja e Ministério
Enquanto os evangélicos tradicionalmente desacreditaram o evangelho da prosperidade em sua forma “violenta”, há uma forma mais atenuada desse ensino que é comum até demais entre nós.[1] Frequentemente não detectado por cristãos bíblicos, ele minimiza o evangelho e leva seus adeptos a focar em coisas como planejamento financeiro, dieta e exercício, e estratégias de aperfeiçoamento pessoal, que oferecem miraculosas e imediatas saúde e riqueza. Essa variedade mais branda e sutil desafia os crentes a irromperem para uma vida de bênçãos por meio da técnica prescrita pelo pastor mais recente.
Obviamente, questões de mordomia pessoal como dinheiro, saúde e habilidades de liderança deveriam ser entrelaçadas em uma completa teologia bíblica de discipulado cristão. O problema vem quando os cristãos, especialmente os pastores, depositam grande ênfase a essas questões secundárias. O que escolhemos pregar ou ouvir diz muito sobre o que valorizamos; e o que eu vejo entre alguns evangélicos é uma disposição de priorizar essas questões menores da lei, acima das mais importantes misericórdias do evangelho.
Essa não é uma preocupação nova. Outros já descreveram as facetas desse evangelho da prosperidade com nomes como deísmo moralista terapêutico, cristianismo sem Cristo e mercantilização do cristianismo.[2] Na verdade, todos os três concordam em descrever um evangelho da prosperidade que é facilmente ignorado, porque parece razoável para os cristãos que amam tanto a Deus quanto à realização dos sonhos de prosperidade.
Um evangelho da prosperidade mais sutil e brando
Para os que têm olhos para ver, os sinais da pregação atenuada da prosperidade estão em todo lugar no evangelicalismo. A rádio cristã oferece uma experiência “positiva”, “encorajadora”, com inúmeras canções incentivando os ouvintes a serem vencedores. As editoras cristãs vendem livros que ajudam os cristãos a terem uma melhor aparência, se sentirem mais confiantes e alcançar seu máximo potencial. Semelhantemente, Jeremias 29.11 e Filipenses 4.13 continuam a ser repetidos como mantras por cristãos que querem ter um impacto no mundo.
Mas, é claro, esses exemplos são apenas sintomas, e a solução não é demonizar os comerciantes cristãos. Em vez disso, devemos todos aprender a pensar mais profundamente sobre o conteúdo da nossa fé e refutar os ensinos errôneos do atenuado evangelho da prosperidade (Tito 1.9).
Cinco marcas registradas da pregação atenuada da prosperidade
Para auxiliar nesse discernimento, deixe-me traçar cinco marcas registradas da pregação atenuada da prosperidade, especialmente como elas aparecem em sermões e livros.
  1. A pregação atenuada da prosperidade eleva as “bênçãos” acima do bendito Deus.
  2. Em primeiro lugar, a pregação atenuada da prosperidade eleva as “bênçãos” acima do bendito Deus. Quando as bênçãos são divorciadas do Deus trino, tudo se compromete. A verdadeira bênção reside somente em Deus, o “bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores” (1Tm 6.15). Por consequência, buscar a bênção de Deus requer buscar a ele mesmo (Is 55.6-7; Mt 6.33). Cristo é o verdadeiro tesouro (Mt 13.44-46), e qualquer busca de bênção que torna Deus um meio para outro fim é errônea e idólatra.
  3. A pregação atenuada da prosperidade separa os versículos da estrutura redentiva da Bíblia.
  4. Em segundo lugar, a pregação atenuada da prosperidade separa os versículos da estrutura redentiva da Bíblia. Quando os pregadores apresentam versículos isolados como princípios consagrados pelo tempo para reivindicar as bênçãos de Deus, o resultado é um evangelho falsificado. Ao invés de ligar todas as bênçãos a Cristo, eles aplicam diretamente versículos individuais às pessoas de hoje.
    Tal promessa motiva o forte e extingue o fraco. A menos que uma passagem seja corretamente relacionada à estrutura redentiva da Bíblia, versículos, como Salmo 1.3, se tornam esteiras nas quais os cristãos sinceros e zelosos se exaurem. A genuína pregação expositiva cristocêntrica previne esse tipo de manipulação textual e protege contra o evangelho da prosperidade atenuado.
    Mais especificamente, a pregação atenuada da prosperidade se deleita nas promessas tangíveis do Antigo Testamento.[3] O erro é frequentemente o de prometer bênçãos da antiga aliança para os santos da nova aliança. Sempre que lemos o Antigo Testamento, como intérpretes fiéis, devemos ver como as promessas primeiramente se relacionaram a Israel e seu estado teocrático; segundo, a Jesus, que cumpriu perfeitamente a lei (Mt 5.17); e em terceiro lugar, a nós. Por vivermos sob a nova aliança, sempre haverá continuidade e descontinuidade entre a promessa do Antigo Testamento e seu cumprimento contemporâneo. Os pregadores devem aprender como interpretar tais textos antigos nos níveis textual, histórico e canônico.[4] Semelhantemente, igrejas saudáveis devem aprender a ver como cada bênção é encontrada relacionando-a a Jesus Cristo, o mediador da nova aliança.
  5. A pregação atenuada da prosperidade deprecia a maldição que Cristo suportou e a bênção do Espírito Santo.
  6. Terceiro, a pregação atenuada da prosperidade deprecia a maldição que Cristo suportou e a bênção do Espírito Santo. Na Bíblia, bênção não é uma ideia amorfa. Deuteronômio 27-28 especifica o conteúdo das bênçãos e maldições da aliança mosaica. Citando tais versículos, os atenuados pregadores da prosperidade anunciam bênçãos divinas através de uma maior obediência, mas ignoram as letras miúdas. Apenas um homem obedeceu a Deus tão perfeitamente a ponto de merecer a bênção de Deus (Hb 10.5-10). E pela obediência pactual de Jesus, ele foi sentenciado à morte em uma cruz romana, amaldiçoado pelos pecados do seu povo (Gl 3.10-13).
    Talvez o maior problema com a pregação atenuada da prosperidade é a maneira como ela minimiza a cruz de Cristo, em vez de adorar o Bendito que suportou a ira de Deus em nosso lugar (Gl 3.13). Os atenuados pregadores da prosperidade frequentemente falam sobre o que você pode fazer para experimentar o favor de Deus, mas passam longe da cruz, ignorando o fato de que cada dom espiritual foi assegurado para o crente por Jesus, que nos dá o seu Espírito como a principal bênção (Gl 3.14; Ef 1.3). Embora eles não neguem a via de salvação descrita em Romanos, eles estão dirigindo em outra estrada.
  7. A pregação atenuada da prosperidade depende de técnicas terapêuticas prescritas pelo pastor.
  8. Quarto, a pregação atenuada da prosperidade depende de técnicas terapêuticas prescritas pelo pastor. Ao minimizar o evangelho, os atenuados pregadores da prosperidade preenchem o vácuo com um prato cheio de técnicas terapêuticas. Com a linguagem de Sião, eles enfatizam as boas obras do crente. Embora não neguem explicitamente a salvação pela graça através da fé, pastores que repetidamente insistem em dicas de vida, técnicas e estratégias para santo sucesso minam a fé que foi uma vez por todas entregue aos santos.
  9. A pregação atenuada da prosperidade aborda amplamente problemas da classe média.
  10. Enquanto que as primeiras quatro marcas registradas possam, de muitas maneiras, serem aplicadas tanto à violenta quanto à atenuada pregação da prosperidade, uma diferença surpreendente diferença permanece. Enquanto que a pregação violenta da prosperidade convida os seguidores a “declararem” e “reivindicarem”, os a pregação atenuada da prosperidade inspira o movimento ascendente para alcançar os sonhos. Na primeira, boa saúde e fortes finanças provam a salvação tangível de Deus; na segunda, os pregadores proclamam uma religião de soluções terapêuticas. Para citar apenas um dos mestres dessa prosperidade atenuada: “Se eu creio no retorno sobrenatural do ato de dar? Sim, senhor! Se eu creio que Deus abençoa dízimos e ofertas? Sim, eu creio. Mas por que deveríamos ensinar vocês a pedir por um carro sem ensinar a respeito do pagamento do carro e das taxas de juros de financiamento?”[5]
    Em poucas palavras, a mensagem de T.D. Jake promete o mesmo ouro através de uma diferente linha de crédito: superabundante fé misturada com obras metódicas. Resumindo, essa pregação atenuada da prosperidade apela para pessoas de classe média que estão muito ocupadas vivendo para examinar uma mensagem que reafirma suas próprias aspirações naturais de sucesso. Tragicamente, “crentes” que engolem esse evangelho falso podem permanecer ignorantes de sua maior necessidade — expiação pelos pecados diante de um Deus santo — a menos que confrontados com o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo.
Uma melhor teologia da bênção
No fim das contas, a tragédia do evangelho da prosperidade atenuado é a maneira com que ele foca tanto em melhorias terrenas. Ao oferecer aos cristãos a melhor vida possível agora, as realidades eternas do céu e do inferno são perdidas. Isso traz a possibilidade muito real que muitos que ouvem o evangelho da prosperidade atenuado estão e continuarão estando perdidos.
Como resposta, os cristãos devem aprender a reconhecer o erro da pregação atenuada da prosperidade, e nós — especialmente pastores — devemos trabalhar em constante oração para libertar outros dela. Primeiro devemos confessar as maneiras em que os desejos por sucesso terreno laçaram os nossos próprios corações. Segundo, devemos apresentar o evangelho bíblico, que excede em muito a oferta de sucesso santo. Devemos exaltar as riquezas do verdadeiro evangelho e confiar que quando as ovelhas de Deus ouvem o seu chamado para arrependerem-se de seus pecados e se voltarem para Cristo, elas também abandonarão a sua atenuada prosperidade e receberão como dom gratuito o único tesouro que conta — Jesus Cristo, o Único Rei Bendito.
[1] Sobre a diferença entre os evangelhos da prosperidade violento e atenuado, veja o estudo revelador de Kate Bowler, Blessed: A History of the American Prosperity Gospel (Nova York: Oxford University Press, 2013), 78.
[2] Em ordem, Christian Smith com melinda Lundquist Denton, Soul Searching: The Religious and Spiritual Lives of American Teenagers (Nova York: Oxford University Press, 2006); Michael Horton, Christless Christianity: The Alternative Gospel of the American Church (Grand Rapids: Baker, 2008), esp. 65-100; Stephen J. Nichols, Jesus Made in America: A Cultural History from the Puritans to The Passion of the Christ (Downers Grove, IL: IVP Academic, 2008), esp. 173-97.
[3] Veja uma lista de tais versículos no artigo de Michael Schäfer: “The Prosperity Gospel and Biblical Theology.”
[4] Para um útil tratamento dessa abordagem, veja Edmund Clowney, Preaching and Biblical Theology(Phillipsburg, NJ: P & R, 1979).
[5] Citado em Bowler, Blessed, 119.
Tradução: Alan Cristie
David Schrock
AutorDavid Schrock
David Schrock é pastor sênior da Calvary Baptist Church em Seymour, Indiana.

Respondendo ao Problema do Mal

R. C. Sproul27 de Março de 2014 - Ética
O Dr. John Gerstner, meu estimado mentor, certamente levava jeito para ganhar a minha atenção e me ajudar a pensar de forma mais clara. Eu ainda me lembro quando disse a ele que eu pensava que o problema do mal era irresolúvel. Tendo notado que os melhores apologetas e teólogos na história da igreja não responderam todas as questões levantadas pela existência do mal neste mundo, eu disse a ele que ninguém jamais resolveria o problema deste lado da eternidade. Ele se virou e me repreendeu: “Como você sabe que o problema do mal nunca será resolvido”, ele perguntou. “Talvez você ou outro pensador seja aquele que Deus apontou para resolver essa questão”.
Com o devido respeito ao Dr. Gerstner, eu acho que ele superestimava os seus alunos. Eu não mudei a minha opinião sobre o problema do mal desde aquela conversa. Nos muitos anos em que ensinei filosofia, apologética e teologia, e nas muitas conversas que tive com pessoas feridas, uma resposta completa para o problema do mal permanece evasiva. Quando muito, eventos recentes fazem o problema parecer mais crítico. Só no ano de 2012, lidamos com um ataque terrorista na Maratona de Boston e com o atirador da Sandy Hook Elementary School em Connecticut. O Furacão Sandy matou quase 300 pessoas no nordeste dos Estados Unidos. Poderíamos também mencionar as centenas de milhares de pessoas que morreram nos tsunamis em 2004 e 2011. A lista é quase infinita.
Colocar um rosto humano no mal pode torná-lo mais inteligível — não é surpresa que pessoas más façam coisas más. A violência da natureza pode ser ainda mais perturbadora. Como lidamos com desastres naturais que não respeitam pessoas, mas de forma indiscriminada tiram vidas de idosos, bebês e deficientes, além de crianças e adultos? “Como”, muitas pessoas — até cristãos — perguntam, “pode um Deus bom permitir que tais coisas aconteçam?”.
Não há falta de especulação na tentativa de responder a essas questões. Indivíduos bem intencionados sugeriram incontáveis teodicéias — tentativas de justificar e vindicar Deus devido à presença do mal no mundo. Em seu livro publicado no século XVIII, Theodicy, o filósofo Gottfried Leibniz tentou explicar o mal sugerindo que nós vivemos no “melhor de todos os mundos possíveis”. Outros pensadores disseram que o mal é necessário para nos tornar pessoas virtuosas ou para preservar a realidade do livre arbítrio. Tais respostas falham em satisfazer o problema do mal, e normalmente sacrificam a soberania de Deus no processo.
Não penso que Deus nos revelou uma resposta plena e definitiva para o problema do mal e do sofrimento. Contudo, isso não significa que ele tem estado em silêncio sobre a questão. A Escritura nos dá sim algumas diretrizes úteis:
Primeiro, o mal não é uma ilusão — ele é muito real. Algumas religiões ensinam que o mal é irreal, mas a Bíblia nunca minimiza a verdade da miséria e da dor. Além do mais, os personagens bíblicos nos mostram que uma indiferença estoica ao mal não é a resposta correta. Eles rasgam suas vestes, oferecem lamentações a Deus, choram lágrimas reais. Nosso Salvador caminhou a Via Dolorosa como o Homem de Dores que conheceu nosso sofrimento.
Segundo, Deus não é caprichoso ou arbitrário. Ele não age irracionalmente, nem demonstra ou permite violência sem propósito. Isso não significa que sempre sabemos o motivo de um mal em particular ocorrer em determinado lugar ou momento. Por não sabermos todas as razões por trás de cada mal em específico, não podemos fazer fáceis conexões entre a culpa e o desastre, entre o pecado de uma pessoa e o mal que recai sobre ela. Textos que incluem o livro de Jó e João 9 nos impedem de declarar universalmente que a dor é uma punição por pecados específicos. Isso significa que quando desastres inexplicáveis ocorrem, devemos dizer com Martinho Lutero: “Que Deus seja Deus”. O clamor de Jó “o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” (Jó 1.21) não foi uma demonstração superficial de piedade ou negação da dor. Pelo contrário, Jó mordeu seus lábios e cerrou seu estômago enquanto se manteve fiel diante da tragédia e do sofrimento absoluto. Jó sabia quem Deus era, e se recusou a amaldiçoá-lo.
Terceiro, este não é o melhor de todos os mundos possíveis. Este mundo é caído. O sofrimento só está aqui porque o pecado desfigurou uma criação que, do contrário, seria boa. É claro que isso não significa que todo o sofrimento esteja ligado a um pecado específico ou que possamos fazer uma correlação, par a par, entre o nível do pecado de uma pessoa e o grau do seu sofrimento. Contudo, o sofrimento pertence à esfera mais abrangente do pecado que as pessoas encontram aqui nesta terra. Enquanto a criação sofre com a violência da humanidade, ela devolve essa violência. A Bíblia nos diz que a criação se enfurece com seus mestres e exploradores humanos. Em vez de administrar a terra sabiamente e povoá-la, nós a exploramos e a poluímos. Até que Cristo retorne com os novos céus e a nova terra, lidaremos com tempestades, terremotos e enchentes. Até lá, ansiaremos por uma criação renovada.
Por fim, o mal não é definitivo. O cristianismo nunca nega o horror do mal, mas também não o considera como tendo qualquer poder maior ou igual ao de Deus. A palavra final da Escritura sobre o mal é triunfo. A criação geme enquanto aguarda por sua redenção final, mas esse gemido não é em vão. Sobre toda a criação está o Cristo ressurreto —Christus Victor — que triunfou sobre os poderes do mal e fará novas todas as coisas.
Tradução: Alan Cristie
R. C. Sproul
AutorR. C. Sproul
R. C. Sproul nasceu em 1939, no estado da Pensilvânia. É ministro presbiteriano, pastor da igreja St. Andrews Chapel, na Flórida. É...
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Namoro: o que a Bíblia diz sobre isso? – Wilson Porte

porte-namoro

Então, o que é o namoro? Uma vez que a Bíblia aparentemente não fala sobre isso, podemos praticá-lo como quisermos?

Pois é, nós não encontramos a palavra “namoro” na Bíblia. Todavia, a Palavra de Deus fala de compromissos pré-nupciais (noivado) e pós-nupciais (sexo/casamento).
Um bom exemplo que temos é o relacionamento entre José e Maria. Eles eram noivos e não se conheciam sexualmente (Mt 1.18 e Lc 1.27). Havia um compromisso sério entre eles, que, na época, eram provavelmente adolescentes. Casamentos aconteciam cedo há dois mil anos atrás. Diferentemente de nosso tempo.
O namoro é um traço de nossa cultura que não existia na época bíblica. Os cristãos dão ao namoro o mesmo peso do noivado, entendendo-o como uma preparação para o casamento. Para os cristãos, namoro não é curtição, mas preparação.
Cristãos não namoram para se conhecer. Cristãos namoram porque já se conhecem o suficiente para caminhar um tempo, rumo ao matrimônio. Eu costumo colocar o namoro na mesma categoria do noivado. A Bíblia não me dá a categoria “namoro”. Logo, eu a defino com aquilo que há de mais próximo dela, o noivado.
A Bíblia não reconhece um relacionamento entre cristãos que não estejam se preparando para o casamento. Há muitos que afirmam: “será que todos os casais cristãos namoram para casar?” Realmente, eu não sei. Mas, deveriam! Se não podem pensar em casar, não devem nem começar a namorar.

O que a Bíblia diz sobre a pessoa com quem o cristão deve namorar? Será com qualquer um?

Quando Deus criou o homem, ele disse: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18). Deus nos criou para que nos relacionássemos com outras pessoas. E o primeiro relacionamento que Deus proporcionou ao primeiro homem, foi o relacionamento com uma mulher.
Adão e Eva eram puros e tinham comunhão com Deus. Ali se via um relacionamento perfeito e agradável a Deus. Todavia, ambos deram as costas a Deus e a beleza do relacionamento entre homem e mulher começou a ser manchada.
Quando os seres humanos começaram a voltar-se para Deus, Deus começou a falar do cuidado que eles deveriam ter em seus relacionamentos. E a principal orientação foi: “Agora, pois, vossas filhas não dareis a seus filhos, e suas filhas não tomareis para vossos filhos” (Ed 9:12).
O que Deus está dizendo aqui? Quando os judeus voltaram do cativeiro babilônico, a terra em que entrariam estava abarrotada de gente “normal”, alguns diriam hoje. Mas, segundo Deus, pessoas com almas imundas, cheias de pecado e violência. Ou seja, pessoas que não temiam a Ele.
O ponto não era o fato de serem ou não judeus, mas de não temerem a Ele e Sua Palavra. E o conselho que Deus deu foi este: afastem-se deles.
Quer namorar e ser fiel a Deus? Então, comece excluindo os candidatos e candidatas que não estejam “no Senhor” (1Co 7.39), ou seja, que não estejam ligadas a Cristo. A pessoa que está ligada a Cristo é aquela que está crucificada com Cristo, que morreu para este mundo e que vive para a glória de Deus. É uma pessoa que traz você para mais perto de Deus. Pense nisso antes de começar a namorar!

Qual o conselho de Deus para alguém que quer namorar um incrédulo?

Via de regra, o conselho de Deus no Antigo Testamento (Ed 9-10, Ne 13.26, Am 3.3) sempre foi que o Seu povo não se casasse nem se relacionasse de modo sério com pessoas que não O temessem.
No Novo Testamento, o conselho não mudou. Deus continuou aconselhando seus filhos e filhas a casarem-se somente com pessoas que fossem, como eles, “templo do Espírito Santo”, ou seja, pessoas regeneradas (2Co 6.14-7.1; 1Co 7.39b).
A tristeza de Esdras no capítulo 9 de seu livro é algo que falta na vida dos cristãos de nosso tempo. A razão de sua tristeza era que a maioria do povo havia se casado com pessoas que não temiam a Deus.
Hoje, não há arrependimento, mas remorso. Não há disposição para obedecer a Deus, mas ao próprio coração. A tristeza de Esdras nos lembra que é possível nos arrependermos de algo que fizemos, ainda que esse algo pareça ser tão inofensivo, tão bobo, tão pequeno.
Quer namorar e ser fiel a Deus? Então, esqueça aquele rapaz que “parece” um anjo, mas que, aos olhos de Deus, está repleto de trevas. Afinal, “que união há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente” (2Co 6.14-16).
Se você é um filho de Deus e deseja ouvir o conselho de Seu Pai, então você deve deixar todo e qualquer namoro com um não-convertido, afastar-se dele, não tocá-lo, não andar mais com ele. Se você fizer isso, Deus promete que você será filho(a) dele, e que Ele será o seu Deus.
Por Wilson Porte. www.wilsonporte.blogspot.com.br. Ministério Fiel © Todos os direitos reservados. Website: www.MinisterioFiel.com.br / www.VoltemosAoEvangelho.com. Original: Namoro: o que a Bíblia diz sobre isso? – Wilson Porte
Fonte: http://voltemosaoevangelho.com/ 
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